Ronaldo
Criticar Cristiano Ronaldo parece ser sacrilégio ou até falta de agradecimento. Que fique claro que vejo o óbvio. Ronaldo é o melhor jogador português de sempre e no mínimo está no top-10 dos melhores jogadores de sempre, junto a génios como Pelé, Maradona, Di Stefano ou Messi. Os seus recordes pessoais são espantosos e a na sua maioria, não serão batidos. O seu lugar na história está garantido e escrito a platina.
Vejo ainda uma grande evolução do Ronaldo de 2022 para o de hoje. O Ronaldo que foi ao Mundial, vinha de uma má época, interrompida por uma polémica entrevista onde disse mal do clube que o lançou para o primeiro plano do jogo. O Ronaldo que esteve no Catar não merecia jogar na seleção e nada acrescentou, a não ser mau estar. E quem caiu foi Fernando Santos, com quem Ronaldo terá deixado de falar.
O Ronaldo de 2024 vem de uma boa época, mesmo que na Arábia Saudita (os outros que lá andam não têm os seus números), e foi mostrando uma certa humildade, inédita. Ofereceu um golo a Bruno Fernandes e deixou que o 8 do United e da seleção marcasse um ou outro livre contra a França e pareceu, pela primeira vez, verdadeiramente feliz com os golos dos colegas, que incentivou como nunca.
Mas, mantendo o seu treino intenso e sua mente de elite, Ronaldo já não é o melhor do mundo e nem sequer é o melhor de Portugal. Ronaldo é uma instituição no marketing e no mundo dos patrocínios, mas em termos desportivos já nada faz pela seleção. Não acredito que se retire porque quererá continuar a mostrar que pode ajudar. Pode marcar mais alguns golos e até pode chegar ao Mundial, mas Ronaldo tem sido, nos últimos 3 a 4 anos aquilo que nunca foi: um problema. Ronaldo está acabado para o futebol de primeira linha e não imagino o que é isso, sobretudo para alguém que está habituada a ser o melhor ou dos melhores a jogar o jogo.
Ronaldo já não tem a velocidade de antes e falham-lhe os reflexos. Não marcou neste Euro e não foi por falta de oportunidades. E o pior é que tapa os colegas. Ramos e outros que ali poderiam estar como Paulinho, Beto ou Vitinha, nunca chegando aos calcanhares do melhor CR7, não têm oportunidades. E os outros, que podem assumir o jogo, os livres e a liderança, como Bruno ou Bernardo, são condenados a coprotagonistas quando o fim da sua carreira também está ao virar da esquina.
Ronaldo ganharia a nossa gratidão, uma última vez, se tivesse sentido de autocritica e deixasse a seleção. É que é o seu melhor de sempre e cada vez mais assistimos, em direto, ao seu declínio. Que seja feliz nas Arábias por mais 2 ou 3 anos e que se reforme com pleno orgulho do que fez.