Wenger deixa o Arsenal neste verão
Abril 20, 2018
Chegou o momento pelo qual os adeptos do Arsenal tanto esperavam. Arsene Wenger parece ter-se rendido às evidências e abandona, no fim do ano, o banco do Arsenal. Deixa 22 anos de uma história que foi muito bonita entre 1996 e 2005 mas que deixou de o ser com a entrada em campo dos milionários no Chelsea ou City.
Wenger, economista de formação, foi um defesa sem grande expressão que passou pelo Estrasburgo, clube da sua terra Natal. Iniciou a sua carreira há 34 anos no banco do Nancy, sem grande sucesso, após conseguir o diploma de treinador. Teve uma oportunidade no Mónaco e foi campeão à primeira tentativa, ficando sete épocas no Principado, vencendo mais uma Taça. Por lá, orientou estrelas como Hateley, Weah, Hoddle, Battiston, Klinsmann ou Scifo. Seguiu-se um período no Japão onde venceu uma Taça do Imperador e uma Supertaça pelos Nagoya Grampus.
Em 1996 aterrou no Highbury, para comandar o Arsenal, uma das maiores equipas da recente Premier League. Demorou dois anos a mostrar os frutos do seu trabalho mas quando mostrou, ofereceu aos fãs uma dobradinha: campeonato e taça. Repetiria em 2002 e em 2004, mais uma vez campeão, levou o Arsenal a uma época sem derrotas, algo que apenas o Preston North End alcançara e 115 anos antes. Quebrou ainda o record do Nottingham Forest de 42 jogos de Campeonato sem derrotas e levou o Arsenal à final da Liga dos Campeões, pela primeira vez na sua história. Depois do sicesso e bom futebol, Wenger liderou o Arsenal ao longo de nove anos sem trofeus. A coqnuista da FA Cup em 2014, 2015 e 2017 acalmou os adeptos mas tornou-se muito claro que Wenger já não conseguia competir numa liga com os multimilionários Chelsea e City que se juntaram ao United, principal rival durante anos a fio. E Liverpool e Tottenham estão sempre à espreita.
Wenger teve um papel fundamental ao descobrir ou dar oportunidades a jovens talentos, em especial, os franceses. Henry, contratado à Juventus após seis meses sem sucesso; Pires, contratado ao Marselha; Vieira, que havia falhado em Milão ou Petit, que Wenger conhecia do Mónaco, tornaram-se dos melhores jogadores da história do Arsenal sendo que o avançado é o seu melhor marcador de sempre. Bergkamp, que já levava um ano em Londres quando Wenger chegou, viveu com o francês os seus melhores anos de sempre. Mas Wenger, mesmo tendo “descoberto” outros mercados, fez do equilíbrio com homens da casa, a sua força. Seaman, Keown, Adams, Dixon, Platt ou Parlour, Wright ou Winterburn foram jogadores centrais nos anos Wenger. Esta lista não ficaria completa sem lembrar Kanu, Overmars, Ljungberg ou Wiltord.
A vida correu muito bem a Wenger até cerca de 2005. Três fatores foram decisivos para o seu declínio. O primeiro foi o investimento do Chelsea que levaria à chegada triunfante de Mourinho e à mudança de paradigma. A luta passou a ser a 3. Mais tarde, passou a ser a 4, com o City a ser também um novo-rico. O Arsenal passou a ser o quarto clube…ou pior. O segundo fator foi a construção do novo estádio. O Emirates é um estádio impressionante e condizente com a melhor liga do mundo mas foi caríssimo e durante alguns anos, houve muito menos dinheiro para a equipa. Justamente nos anos em que Chelsea e City cresciam. O City “desviou” vários craques do Arsenal como Sagna, Nasri ou Adebayor. O terceiro ponto e o mais criticável será a política de contratações de Wenger. Wenger parece ter ficado preso aos anos 90 quando o orçamento era mais curto e era “obrigado” a descobrir talento a baixo custo, algo que conseguiu, como se sabe. Wenger nunca quis competir com os rivais com as mesmas armas e clube sofreu com isso. É inevitável que o seu sucessor invista mais e traga uma ou duas “trutas” para o clube e acabe a ser visto como gastador mas esse é o novo paradigma da Premier League.
Wenger é o treinador com mais anos ao longo da história do Arsenal e apesar de 9 anos negros e de mais 2 ou 3 tremidos, será recordado como uma das grandes figuras da história de um clube a quem deu 17 títulos e para o qual contratou alguns dos melhores jogadores da sua história. Os seus métodos não mudaram apenas o Arsenal mas toda a Premier League mesmo que não se lhe tenha sido feita justiça na última década.