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Visão do Peão

Visão do Peão

Marco Simone

Heróis esquecidos

28.01.25

Lembro-me de ter cerca de dez anos e os comentadores da RTP realçarem o facto curioso de um certo avançado italiano se apresentar no Estádio da Luz a jogar de ténis brancos. Pouco depois perceberam que Marco Simone estava mesmo de botas de futebol, mas brancas, algo que tanto eu como os comentadores nunca antes tínhamos visto. Simone era uma personalidade e a sua qualidade merece ser lembrada e sublinhada. Já agora, esse jogo ficou 0-0 e Simone jogou 89 minutos em Lisboa. Na primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões o avançado tinha bisado no 2-0 em San Siro. Simone, que fez 56 anos este mês, nasceu em Castellanza, na Lombardia e começou a jogar pelo Como, que ficou a meio da tabela, com Marco a participar em dois jogos, sem marcar. Aos 19 anos foi artilheiro da terceira divisão, marcando 15 vezes pelo Virescit Boccaleone. Regressou ao Como para 6 golos.

Jovem talento da região, juntou-se ao Milan aos 21 anos para aprender de perto com mestres de outro nível: Van Basten, Gullitt e Massaro, além de várias outras lendas, a jogar em todas as posições. Marcou por 3 vezes e fez parte do plantel que ganhou a Supertaça Europeia (suplente utilizado nas duas mãos contra o Barcelona); Liga dos Campeões (viu do banco, a final contra o Benfica) e Taça Intercontinental (jogou 20 minutos na vitória contra o Atlético Nacional de Higuita). Na época seguinte dobrou o número de golos, ainda como suplente, e voltou a vencer títulos: não foi utilizado na final da Supertaça Europeia nem na final da Taça Intercontinental. De 1991 a 1993, voltou a não chegar aos dois dígitos, marcando 8, 9 e 6 golos, vencendo 3 ligas italianas, 2 Supertaças italianas (fez o único golo no 1-0 ao Torino, em 1993) e uma Liga dos Campeões (viu do banco o famoso 4-0 ao Barcelona, em Atenas).

Em 1994-1995 (a tal época em que veio à Luz de botas brancas), fez uma das melhores época da carreira, com 21 golos em 45 jogos. Venceu a Supertaça italiana à Sampdória e a europeia ao Arsenal. Perdeu a final da Liga dos Campeões para o Ajax de Van Gaal e a Intercontinental para o Vélez Sarsfield de Chilavert. Depois dessa época de sonho, a fazer dupla com Massaro, chegaram Roberto Baggio e George Weah e Simone voltou ao banco, fazendo, ainda assim, 11 golos. Foi campeão e privou com Futre. No ano seguinte, o seu último em Milão, 10 golos e 0 títulos. Despediu-se com 74 golos em mais de 240 jogos, além de ter contribuído (mais ou menos) para 9 títulos.

Aos 29 anos tornou-se no camisola 9 do PSG, fazendo dupla com Maurice, tendo atrás de si homens como Le Guen ou Raí. Marcou 22 vezes (recorde pessoal até aí) e foi figura central na conquista da Taça de França e Taça da Liga. No 2-1 ao Lens, fez o golo da vitória, garantindo a Taça nacional. Marcou também ao Bordéus na final da Taça da Liga. E 1998-1999, com o português Hélder (ex-Boavista) e com Jay Jay Okocha, venceu a Supertaça, ao Lens, e marcou por 13 vezes.

Ficou em França, mas mudou-se para o Mónaco. Marcou 28 golos (recorde da carreira) e ao lado de Barthez, Sagnol, Costinha, Gallardo ou Giuly, foi campeão francês. Ficou mais um ano no principado para mais 13 golos e uma Supertaça. Depois de mais meia época sem golos no Mónaco, regressou brevemente ao Milan, aos 33 anos, para ser suplente de Shevchenko e Inzaghi. Fez apenas um golo, à Lázio, na Taça de Itália e nada venceu. Passou ainda por Mónaco, Nice e Legnano, sem sucesso. Mas o seu nome já estava feito. Por Itália nunca marcou e esteve apenas em 4 jogos, entre 1992 e 1996. Apesar da concorrência de homens como Vialli, Ravanelli, Del Piero, Totti, Baggio, Vieiri ou Inzaghi teria merecido jogar mais, sobretudo ter sido chamado para o Euro 2000, após 28 golos pelo Mónaco, mas não foi assim que aconteceu.