Dani
Heróis esquecidos
Daniel Carvalho só não é um dos melhores jogadores portugueses de sempre, porque não quis. Começou no Sporting, passou por Inglaterra, Holanda, Espanha e seleção portuguesa, mas aos 27 anos, já estava reformado.
Filho de uma família com posses, nunca teve propriamente necessidade de lutar por nada. Quase por acaso, foi descoberto na praia e juntou-se às camadas jovens do Sporting. Cedo se destacou e na senda de Futre ou Figo, o extremo começou a ser perspetivado como o próximo grande extremo a sair das escolas leoninas. Com efeito, pensou-se que seria ele render Luís Figo, após a sua saída, no verão de 1995. Na estreia, fez 4 jogos e viu, do banco, o Sporting vencer a Taça. No ano seguinte, com Figo já no Barcelona, não teve o protagonismo que esperava. A meio da época mudou-se para a Premier League. Desde logo, conquistou as inglesas, com as quais teve muitas e longas noites de farra, para desespero de Harry Rednapp. Fez 2 golos e 2 assistências em 9 jogos e apesar dos seus escapes, não terá jogado mais porque não havia dinheiro para o contratar em definitivo. Ainda assim, conviveu com Peter Shilton, Bilic ou Moncur e ainda com os jovens talentos, Rio Ferdinand e Frank Lampard.
O seu próximo destino seria Amsterdão, depois de Johan Cruyff se ter apaixonado por ele e até ter pedido que a sua camisola 14 voltasse a ser usada em campo. Reforçou o Ajax de Van Gaal e juntou-se a uma legião de estrelas: Van der Sar, Blind, irmãos De Boer, Litmanen, Overmars ou Kluivert. Na primeira época na ArenA, 7 golos e apenas a chegada à meias da Liga dos Campeões. Na segunda, 5 golos e a conquista de campeonato e taça. Na terceira, apenas 1 golo e mais uma Taça. Ficou mais um ano, marcando mais 4 golos e nada vencendo. A espaços entusiasmou a estrutura e os adeptos, mas a prioridade parece sempre ter sido a vida noturna.
Voltou a Lisboa para jogar pelo Benfica, mas o treinador que o quis, Mourinho, deixou a Luz e Dani só jogou por 4 vezes pelo rival do clube que o formou. Não deixou saudades e rumou a Madrid, a pedido de Paulo Futre, então diretor desportivo do Atlético, a lutar para deixar a segunda divisão. Com Hugo Leal a seu lado e a servir o adolescente Fernando Torres, encantou os adeptos mas o Atléti não conseguiu subir. Na época seguinte, fez 6 golos e ajudou o clube a ser campeão. Apesar da subida a La Liga, o Atlético quis descer-lhe o ordenado (e a vários colegas) e Dani, a quem parece sempre ter faltado garra, não aceitou e foi ficando, ignorado, fazendo apenas 12 jogos e retirando-se, aos 27 anos. Pela seleção A, apenas 9 partidas. Estreou-se em dezembro de 1995, em Wembley, num empate a 1 contra a Inglaterra de Seamen, Gascoine ou Shearer. Já em 1996, teve a segunda internacionalização em pleno Parc des Princes, numa derrota por 3-2. Jogou 3 vezes na qualificação falhada para o Mundial de 1998 e mais 1 na qualificação para o Euro 2000. Em março de 2000, na preparação para o Euro, despediu-se da seleção, numa vitória por 2-1, em Leiria, contra a Dinamarca. Os melhores dias da carreira terão sido pelas camadas jovens de Portugal pelas quais fez 14 golos em 35 jogos. Em 1994, marcou 1 golo em 3 jogos no Euro de sub-18; em 1995, marcou 4 vezes no Mundial de sub-20, sendo o segundo melhor jogador de um torneio em que Portugal perdeu nas meias finais para o Brasil e venceu a Espanha no jogo de atribuição do terceiro lugar; em 1996, esteve no Euro sub-21, no Torneio de Toulon e nos JO de Atlanta, nos quais Portugal falhou a medalha de bronze, sendo esmagado pelo Brasil de Bebeto e Ronaldo no jogo decisivo, depois de ter sido afastado nas meias pela Argentina de Crespo de Ortega.