Super Águias nos EUA em 1996
Memory Lane
Poucas seleções foram mais interessantes de acompanhar do que a Nigéria dos anos 90, especialmente entre 1994 e 1996. No verão de 1994, a Nigéria jogou o Mundial dos EUA, apresentando um icónico equipamento adidas e jogadores de classe global como Yekini (aquele balançar de redes após o golo à Bulgária), Amokachi ou Okocha. O sonho nigeriano acabaria nos oitavos de final ante da Itália de Baggio, que seria finalista. Poucos meses antes, a Nigéria, com um grupo muito parecido, tinha vencido a CAN, na Tunísia, com Yekini em grande, a fazer 5 golos na prova.
O verdadeiro sonho americano da Nigéria chegaria em 1996, pouco mais de dois anos depois do Mundial. A Nigéria foi até Atlanta vencer o ouro olímpico. Era uma boa seleção, mas antes do torneio não era uma favorita. A caminhada começou tímida. 1-0 à Hungria, longe dos seus melhores dias. Kanu, avançado que usava a camisola 4 e já tinha trocado o Ajax pelo Inter, fez o único golo. Ao segundo jogo, a segunda vitória. 2-0 ao Japão, com um autogolo aos 83 minutos e um golo de Amokachi, pouco depois, também não eram razão para grande espanto, mesmo que o Japão tivesse surpreendido o Brasil na primeira jornada. O grupo terminou com uma derrota por 1-0 com o Brasil, com golo de Ronaldo. A Nigéria apurou-se em segundo e jogou os quartos com o México, de Campos, Pardo ou Blanco.
No fim de julho, no Legion Field, 0-2, com golos de Babayaro, lateral esquerdo do Anderlecht que depois se mudaria para o Chelsea e de Jay Jay Okocha, número 10 mágico, na altura no Fenerbahce. Tal como Argentina, Portugal e Brasil, a Nigéria estava nas meias-finais.
Calhou o Brasil, adversário repetido. Terá sido o melhor jogo do torneio e um dos melhores de sempre dos Jogos. 4-3 das Super Águias ao Escrete. No primeiro minuto, Flávio Conceição, volante, fez o 0-1, num livre que pouco depois, passaria a ser ao jeito de Roberto Carlos. Roberto Carlos que, na própria baliza, empatou, mas logo Bebeto e, de novo, Flávio, fizeram o 1-3 ao intervalo. Tudo parecia encaminhado. Mas aos 78 minutos, finalmemte, um nigeriano fez um golo. Ikpeba reduziu. Kanu, o 4, marcou o segundo na prova e aos 90 minutos, 3-3. Kanu recebeu a bola na pequena área e num toque de classe que poderia ter sido visto numa praia brasileira, levantou subtilmente a bola e rematou, com sucesso. Seria dele o 4-3 final, num golo de ouro, após a bola bater nas costas de um colega (Fatusi) e de confundir a defesa brasileira. Pelo caminho, além dos mencionados, ficaram craques como Rivaldo, Juninho Paulista, Sávio, Zé Elias, Amaral, Aldair ou Dida. No banco estava…Mário Zagallo.
Na final, outro gigante mundial, a Argentina, treinada por Daniel Passarella, que eliminou Portugal de Beto, Peixe, Vidigal, Nuno Gomes ou Porfírio. A 3 de agosto, o jogo começou como o com o Brasil. Marcou primeiro a Argentina e muito cedo. Aos 3 minutos, Claudio Lopez fez o 0-1, numa cabeçada fenomenal. Não lhe ficou atrás a de Celestine Babayaro, 25 minutos depois, que deu o empate. Aos 49 minutos, Burrito Ortega, ainda no River Plate, caiu na área e, de grande penalidade, Crespo, seu colega de equipa, fez o 1-2. A cerca de 15 minutos do fim, bola na área argentina, um nigeriano falha o remate, enganado os defesas que deixaram Amokachi rematar à vontade, para o 2-2. Amunike, já no Barcelona, após ter brilhado no Sporting, sofreu uma falta aos 90 minutos que deu um livre à Nigéria. Desse livre, surgiu o golo da glória, pelo mesmo Amunike. Uma “armadilha de fora de jogo” mal-executada, deixou o extremo isolado e pronto para bater Pablo Cavallero.
O neerlandês Jo Bonfrere era o treinador de um plantel que contava, além dos mencionados, com West, Oliseh, Babangida ou Lawal.